A perfeição como objectivo.
A uniformidade como princípio.
A subjugação como modelo de felicidade.
Começa-se por definir um conceito de perfeição - as máquinas são um bom exemplo dessa situação. Que uma máquina é perfeita, significa que ela é eficaz e que cumpre a função para que foi feita. Pense-se por exemplo numa máquina fotográfica: ela é perfeita se a óptica (a lente) é sem defeito, se o corpo é estanque à luz, se o obturador respeitar os tempos definidos. Não cumprindo estes predicados diz-se que a máquina não presta, que está estragada, enfim, que é inútil. Mas será assim? E se às máquinas, como às pessoas, se reconhecer o direito à idiosincrasia?
Acontece que - e mantendo-nos ainda no exemplo da máquina fotográfica - se uma centena de máquinas em condição de perfeição, fizerem (cada uma delas) a fotografia de um mesmo objecto num mesmo momento, o que resulta são 100 fotografias exactamente iguais; indiscerníveis na atribuição de cada uma das fotos à respectiva máquina que a fez. Gera-se assim o princípio da uniformidade.
Ocorre o mesmo com as pessoas se não se reconhece a diferença idiosincrática de cada indivíduo - que dessa maneira passa à condição de mero singular, ou seja, uma unidade indiscernível entre tantas do mesmo género.
Deixo a metáfora das máquinas fotográficas e fixo-me na associação dos ditos seres humanos. Se, como no caso das máquinas, só as pessoas pensando e comportando-se de modo socialmente perfeito (definido sabe-se lá por quem e para o quê!) forem consideradas socialmente úteis e os outros forem descartados como estragados e por isso inúteis para a construção social, então o que resulta é um modelo de sociedade uniformizada quer na acção quer nas ideias - é o politicamente correcto. Ou seja, podem ser aos milhões os singulares mas no fim é como se fosse só um; como se esses milhões de corpos tivessem todos a mesma cabeça. Numa sociedade em que todos agem e pensam de acordo com um modelo único - como se todos fossem orgãos de um só corpo - então as decisões dos ditos "indivíduos" seriam exactamente iguais de singular a singular. Num simples exercício de economia, bastaria então que um único singular desempenhasse a tarefa de decidir. Mas isso é o que propõe e oferece o ditador ( personificado ou na forma de um avatar AI) seja qual for a envergadura em termos da hierarquia global do poder.
Pensando racionalmente esse seria então o modelo ideal e possibilitante da felicidade dos singulares constituintes da sociedade. De facto, livres da obrigação de tomar decisões - que sempre acarretam responsabilidades - os singulares, libertados desse fardo, poderão então entregar-se eficazmente à concretização dos trabalhos e objectivos que lhes são atribuidos.
Será a isso que as pessoas aspiram?
É que está ser essa a direcção em que se movem.
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