terça-feira, 27 de outubro de 2020

Carta aberta aos meus contemporâneos

 

A sociedade está a mudar!

Como se muda uma sociedade? Mudando o modo de comportamento das pessoas que constituem essa sociedade. O convívio cede lugar ao distanciamento, a confiança cede lugar ao medo, os traços particulares e as expressões emotivas ocultam-se com máscara - sobra o número de identificação como factor de diferença. Então, cada tipo de sociedade tem um tipo de comportamento que lhe corresponde.

Mas quem está, afinal, a mudar a forma da sociedade? Mudam-na as pessoas ao adoptarem os comportamentos que lhes recomendam - ou impõem - os dirigentes. O pretexto é um vírus, o método: isola-se uma doença de todas as outras, faz-se um controlo estatístico exclusivo dessa doença (sem ligação ao contexto geral) e, então, os resultados serão sempre assustadores. O fenómeno é suficientemente global. Hierarquizado. Os dirigentes locais fazem o que recomendam as instâncias superiores. Nenhum quer ficar com o ónus de qualquer morte. Os dirigentes políticos executam as directivas dos dirigentes de saúde.

Então, o futuro perspectiva-se eugénico e ditatorial; já que, para protecção da saúde colectiva, tudo poderá ser imposto. Afinal, quem de bom senso poderá resistir ao apelo da saúde e às medidas fundadas em "evidência científica" (ainda que saúde colectiva seja uma abstracção - o que há é a saúde ou doença de cada singular - e a dita "evidência científica" seja uma falácia de linguagem). Quando uma pessoa faz o que lhe mandam e não o que ela pensa que deve fazer, isso é submissão de quem faz e ditadura de quem manda. O elogio do comportamento obediente, como exemplo do bom desempenho cívico, contribui para criar o orgulho de obedecer no sujeito obediente.

Seguramente, algo está a acontecer; e não faltarão os pequenos e grandes candidatos a ditador para aproveitar a situação. Não basta dizer-se que vivemos num estado de direito, é preciso que os comportamentos dos dirigentes o confirmem. "É o novo normal, temos que suportar, não há mais nada a fazer!", dizem alguns comentadores (fazedores da opinião pública), como se houvesse repressão virtuosa. O tempo é o da linguagem eufemística - não se diz prisão domiciliária, diz-se confinamento.

Regimes sociais totalitários não são novidade, a novidade é o argumento legitimante de vocação eugénica. Porquê todo este discurso? Porque, parafraseando um dirigente, pareceu-me que é preciso dar um abanão nas pessoas.


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