sábado, 30 de maio de 2009

...outra surpresa!

Na recente cruzada que empreendi com vista à reorganização do meu atelier, esta foi outra das obras a solicitar-me os últimos cuidados... parece-me que se interrompe por mais um largo tempo a dita racionalização do atelier. Por outro lado, fica mais uma escultura concluída!

O sonho erótico do preto Ribeiro, é uma escultura em pâte-de-verre.

Em 2004 realizei um conjunto de 13 gravuras, a propósito de outros tantos sonetos de Bocage. Na mesma altura esculpi um retrato do poeta (vidro e pedra) e também uma alegoria erótica, a propósito de Ribeirada... belíssimo poema erótico, mais encontrado com a imagem popularizada de Bocage, do que os referidos sonetos, de pendor filosófico e humanista (mas num homem grande cabem muitos mundos!).
Para aguçar a curiosidade, fica aqui o final de Ribeirada... (assim, tal e qual está impresso num exemplar datado de Bruxellas 1899, ortografia e tudo.)

...........................

Agora vós, fodões encarniçados,
Que julgais agradar às moças bellas
Por terdes uns marsapos, que estirados
Vão pregar c'os focinhos nas canelas:
Conhecereis aqui desenganados
Que não são taes porrões do gosto d'ellas;
Que não lhes pode, enfim, causar recreio
Aquelle, que passar de palmo e meio.

4 comentários:

Anónimo disse...

Ahahahahahaa!

De quem são estes versos???

Rita Ferro

severino disse...

Trata-se de um poema erótico exactamente do nosso Barbosa du Bocage (é belissimo). Penso que é possivel encontrar no mercado, se não... eu posso enviar o texto completo.

Anónimo disse...

Claro, só podia! Esse homem é tão poderoso no verb/so que até desloca o ar! (Deixe, Severino, eu consulto aqui entre os meus livros!) Nunca li o Bocage como merecia. Mas percebe-se porquê, não é? Ele é tão escabroso que assusta as senhoras :-)) Abraço, RF

Severino disse...

Totalmente de acordo; sobretudo quando o homem que escreve isto:
.......................
Se um celeste poder,tirano e duro,
Às vezes extorquisse as liberdades,
Que prestava,oh razão,teu lume puro?

Não forçam corações as divindades,
Fado amigo não há,nem Fado escuro:
Fados são as paixões,são as vontades.

... ao mesmo tempo também escreve isto:

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Mas quando ferrugenta enxada idosa,
Sepulcro me cavar,em ermo outeiro,
Lavra-me este epitáfio,mão piedosa:

"Aqui dorme Bocage,o putanheiro;
Passou vida folgada e milagrosa;
Comeu,bebeu,fo...,sem ter dinheiro."

Realismo puro e duro!

Certamente que a Rita conhece os Quatro Sonetos a Afrodite Anadiómena, do Jorge de Sena... ainda assim não resisto a referi-los!
Disponha,Rita.
Abraço